domingo, 28 de setembro de 2014

Haja Solidariedade Na Europa


David Cameron tem andado a dormir mal. No início de 2013 encheu o peito de ar e tentou fingir que era um estadista querendo o melhor para os cidadãos que representa. Para isso prometeu fazer um referendo onde os britânicos pudessem decidir sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia.

Acontece que, talvez por motivos semelhantes, também uma grande parte dos cidadãos escoceses não queriam continuar no Reino de David.

Os escoceses independentes passariam a ter domínio sobre os seus próprios impostos, controlariam a exportação de petróleo do mar do norte e passariam a ser, segundo algumas estimativas, a 14ª potência mundial. Por outro lado, deixavam de pagar a grande dívida criada pelas outras nações irresponsáveis que compõem o Reino Unido. Só vantagens, afinal de contas ninguém tem que limpar a sujidade dos outros.

Olhando por este prisma, e tal como Salmond tem mais do que motivos para abandonar o Reino, Cameron tem motivos mais do que suficientes para querer que o Reino Unido saia da UE. A irresponsabilidade e ingovernabilidade de países como Portugal, Espanha ou Grécia não podem pôr em causa a grande potência, quiçá império, Britânica.

Ás voltas com estas questões do paga quem tem que pagar e recebe quem tem que receber andam também outras regiões de países que integram a União Europeia. São exemplo disso a Catalunha, em Espanha (que, por exemplo, exporta 26% do total de exportações espanholas) ou a Flandres, na Bélgica (que exporta 79% do total de mercadorias exportadas pela Bélgica).

Todos estes casos têm em comum a falta de solidariedade entre pessoas que têm mais em comum do que simplesmente o passaporte. Aquilo que está em causa não são questões relacionadas com direitos básicos mas simplesmente questões economicistas. Não interessa a cultura ou o bem comum. Interessa o próprio umbigo e o bem individual. Que sociedade é esta que, quando se vê confrontada com dificuldades, não é capaz de as partilhar para que seja menos mal para cada um?

P.S.: É importante salientar que, no caso do referendo na Escócia, a democracia mostrou o seu verdadeiro poder. Não ganhou o “não”. Ganhou a sociedade escocesa que não quis faltar a um momento de importância crucial para si próprios e para o resto do globo. Saíram todos à rua (84,5% dos eleitores foram votar). É a vontade de todos a definir as fronteiras que a vontade de meia dúzia definiu há uns séculos.

Texto originalmente publicado no site da Secção de Desfesa dos Direitos Humanos da Associação Académica de Coimbra.

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