domingo, 11 de novembro de 2012

"O Cônsul De Bordéus"

Para felicidade de muitos, Aristides de Sousa Mendes foi, finalmente, apresentado aos portugueses através da sétima arte. "O Cônsul de Bordéus" esteve na primeira sessão competitiva noturna do Festival Caminhos do Cinema Português e foi bem recebido pelos mais de 300 espectadores do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), em Coimbra. Vítor Norte, São José Correia, Carlos Paulo, João Cabral, Leonor Seixas entre muitos outros dão forma à história do homem que contrariou o regime fascista e visou milhares de passaportes aos judeus que queriam fugir das garras de Hitler.
No final da sessão subiram ao palco algumas das figuras que contam hoje a história de Aristides de Sousa Mendes. O primeiro a falar foi José Mazeda, produtor do filme e começou por lamentar a falta de apoios ao cinema português denunciando a ignorância dos governantes que "nem sabem quem foi o cônsul de Bordéus", reitera. O homem que quer levar a figura do Humanista Aristides de Sousa Mendes às escolas e que deseja que o filme seja um sucesso para que todos conheçam este diplomata carismático explicou ainda a escolha da cidade de Viana do Castelo para a rodagem do filme: em primeiro lugar por ser mais barato e depois porque "Viana está mais parecida, hoje em dia, com a Burdeus de 1939, do que a própria cidade de Burdeus".
Quem também falou ao público de Coimbra foi o neto de Aristides de Sousa Mendes que assistiu à estreia do filme na cidade dos estudantes com o seu filho, bisneto do diplomata. O Major Álvaro Sousa Mendes começa por relembrar que Aristides se licenciou, precisamente, na cidade do Mondego e conta o percurso que teve que traçar para que o estado português fise-se a devida homenagem ao seu avô, nomeadamente uma aproximação ao Ministério dos Negócios Estrangeiros depois da queda do regime de Salazar, em 1974, que se mostrou reticente.
O familiar do diplomata que, heroicamente, ousou desafiar o regime de António de Oliveira Salazar conclui dizendo que o terceiro lugar alcançado por Aristides de Sousa Mendes no concurso da RTP Grandes Portugueses soube ao primeiro.
Luís Reis Torgal, Professor Universitário em Coimbra e historiador também foi chamado a intervir para falar sob o ponto de vista mais técnico. Com experiência em assuntos relacionados com o Estado Novo o académico começa por alertar para a possibilidade de a sua intervenção ser a mais polémica garantindo que o cinema é sempre importante para a compreensão da história mas que nem sempre é rigoroso, explicando a falta de rigor científico com a criatividade que é necessária para que o público goste de um filme. Luís Reis Torgal não deixa de dar uma dica ao produtor que estava sentado à sua direita no palco do TAGV: "para fazer um filme histórico é precisa uma base hitoriográfica e a presença de um historiador" dando o exemplo de Manoel de Oliveira "que se faz acompanha de um especialista em história em todos os seus filmes". Ainda assim o especialista não deixa de concordar que este é um filme que vai ajudar os portugueses a conhecerem melhor a figura do Cônsul de Bordéus. Quanto ao terceiro lugar no concurso Grandes Portugueses Reis Torgal reafirma que achou o programa "vergonhoso" e "degradante".
Antes das opiniões do público, que estenderam o debate por mais cerca de 20 minutos falou Luís Fidalgo, representante da Fundação Aristides de Sousa Mendes para reafirmar que o diplomata português é "reconhecido pelo mundo como um herói".
FOTOGRAFIA: © Tiago Santos, Festival Caminhos do Cinema Português, 2012

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